Ser ou não Ser (MÃE)
- Nina
- 14 de mai. de 2021
- 3 min de leitura
Quando eu era criança fui criada com os vizinhos meninos, eu era a única menina em meio de 8 meninos e isso era maravilhoso, brincava de tudo sem camisa com os meninos, e suava na mesma quantidade que eles, aí um dia “fui informada” para colocar uma blusinha porque meninas não podiam ficar sem a parte de cima da roupa. Acho que essa foi a minha primeira "raivinha" que tive ao ter nascido mulher nesse país, aí parei de brincar com os meninos, e não tinha menina para eu brincar, eu amava natação, parei também porque me informaram que eu ia ficar com ombros largos igual aos rapazes (mais uma raivinha), e ai a outra "raivinha" veio nas vezes que eu começava a correr e alguém me informava que correr não era bom porque podia fazer cair os seios, aí as informações que chegavam até a mim ou eram de proibição ou me obrigações porque eu era mulher... Uma vez fui obrigada por um tio a colocar sutiã, e com isso eu fui cada vez mais me alimentando de um "ódiozinho", de uma "raivinha" de ter escolhido nascer MULHER, cheguei um momento que eu tinha aversão a tudo que remetia ao meu feminino, inclusive curvas femininas.
A delicadeza fiz questão de esquecer, o rosa que eu amo tanto já nem usava mais, nessa época eu me lembro de ter pedido para ser menino, não porque eu queria, mas porque eu achava que era mais fácil, que era mais divertido, sem falar a facilidade masculina de gozar (até porque se lembrarmos em pleno sec. XXI gozar no Brasil ainda é TABU quando se é menina). E escrevi tudo isso, porque internamente para mim eu já tinha me decidido que não seria mãe, imagina se nasce menina, mais uma para sofrer no mundo, era cada pensamento...
...E ai viajar abriu meus horizontes e me fez enxergar. Por ter trabalhado para várias culturas diferentes me permiti conhecer o meu espaço como mulher em cada uma, por inúmeras eu agradeci de ter nascido no Brasil, e por inúmeras eu queria que o Brasil tivesse caminhado mais rápido, mas hoje como boa apreciadora do tempo que sou, sei que tudo tem sem tempo. E tudo também esta acontecendo agora. E ai fui sentindo meu espaço como mulher, fui me permitindo, foi muita lição de vida aprendida. Eu voltei a minha essência. Eu senti o quão eu gostava de ser Mulher, eu só não sabia como administrar isso, eu estava perdida.
Nos meus trabalhos na Inglaterra, com as inúmeras famílias em que eu servi, me lembrei que quando eu era criança, eu amava e muito família reunida, casa cheia de irmãos, percebi que eu gostava daquilo: família reunida, me lembrei até que dizia que teria vários filhos, iguais meus avós tiveram.
E ai o que eu já achava que estava mais que resolvido em mim, começou novamente a me perturbar... Ser ou não SER (Mãe), quanto mais estudo outras culturas e outras teorias, mais percebo que é a coisa mais arriscada que algum ser humano pode fazer na vida, o quão amor ela deposita naquilo, mais percebo o quão corajosa uma mulher é quando se permite gerar outra vida, os riscos que SER MÃE gera, nas mil e umas possibilidades que pode acontecer, suas responsabilidades, é bastante sinistro porem vejo hoje o quão excitante ser mãe também pode ser e o tanto que a Mulher muda, a alegria que gerar, cuidar de outra vida também proporciona para alma. Mulher fonte que gera VIDA, poderoso isso né?
A vida é uma incógnita inclusive para mim que estudo ela, mais sei que quanto mais escuto meu coração mais me vejo de encontro para a realização desse sonho de criança, mas sempre com o meu lema Prefiro: Prefiro a solitude do que a falsa companhia. E confesso que depois de tudo isso eu entendi que essa decisão eu não quero tomar sozinha, até porque para eu gerar uma vida eu preciso de outra que queira correr os mesmos riscos que eu. Step by Step.
BY Naiana Chaves &@diariodealcova

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