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Por que me relacionar com alguém comprometido não me faz traidora da causa?

  • Nina
  • 28 de jul.
  • 3 min de leitura

Contextualizando: sou uma mulher solteira. Estou solteira.

Recentemente, me envolvi com um homem que tem (ou tinha) uma namorada. E aí vieram os questionamentos: como uma mulher feminista, que defende a ideia de que uma levanta a outra, pode “trair” outra mulher dessa forma? Isso não seria hipocrisia? Não seria ir contra tudo aquilo que prego e defendo?

Pois bem, vamos por partes.

Primeiro: sempre deixei claro que não acredito muito na monogamia. Já vivi relacionamentos monogâmicos, sim, e fui fiel a eles pois eram os idealizados pelo casal, mas sempre fui honesta com meus parceiros sobre o que penso: traição não é apenas sobre corpos que se encontram. Para mim, existe traição emocional, afetiva, ética — e ela nem sempre passa pelo sexo.

Segundo: sou uma mulher solteira. Estou solteira. Eu não traí ninguém.

A responsabilidade de um compromisso é de quem está dentro dele. Eu não sou “a outra” — ele é o cara que escolheu trair. Se há traição acontecendo, é ele quem está rompendo o pacto com a parceira dele — não eu. A ética da fidelidade não é minha para ser quebrada.

E o meu discurso não mudou por conveniência. Sempre repeti isso sobre o meu pai, que foi infiel à minha mãe por toda a vida — e segue sendo infiel à nova parceira. Como costumo dizer: pode ser com a Fabiana, a Maria, a Fernanda... o problema nunca foram elas. Sempre foi ele.

O mesmo me aconteceu num relacionamento abusivo que vivi no passado. Eu sei o quanto dói ser traída, e não estou aqui tentando justificar nada com “vingança”, “ressentimento” ou qualquer outra fantasia.

No final, foi só por tesão mesmo. E como falei para quem me cobrou: antes de ser feminista, mãe ou ocupar qualquer posição social, eu sou mulher — com desejo, com escolhas e com direito ao erro.

O feminismo que pratico não é manual moralista de conduta sexual. Não estou aqui para dizer que certas mulheres “merecem mais” ou que toda relação entre mulheres deve ser uma aliança automática.

Sororidade não é apagar a complexidade das relações humanas. Sororidade, pra mim, é não julgar com crueldade, não rivalizar por homem nenhum, não reproduzir machismo em nome de uma moral seletiva. É, sim, te ensinar os caminhos para o seu empoderamento — e não te vigiar em nome de uma pureza que ninguém alcança.

E o que mais me chamou atenção: como o pacto do masculino é forte e eficiente. Eu fui acusada — sim, acusada — de “trair a causa inteira” só porque abaixei a calcinha pra um cara comprometido. Agora, me pergunto: vou soltar a mão de todas por isso? Virei inimiga das mulheres? Traidora da luta? Vilã do romance alheio?

Eu não roubei ninguém. Não rivalizei com ela. Mal sei quem ela é. E, pelo que percebi, a traição aconteceria comigo ou com outra. Eu só estava lá. Quando questionei, então, se deveria contar a verdade à namorada — e se, ao fazer isso, eu estaria sendo fiel a ela e à causa feminista, a resposta que recebi foi: “não”, porque isso poderia parecer que eu queria tomar ele dela.

Claro que foi uma provocação da minha parte. Eu queria mesmo ver a reação e entender, na visão daquela pessoa, o que exatamente significa “ser fiel a outra mulher”. Porque, no fim das contas, nem isso parecia aceitável — ou seja, eu estava errada em qualquer cenário.

Não estou dizendo que me orgulho ou romantizo a situação. Estou dizendo que me recuso a ser responsabilizada sozinha por uma traição que não partiu de mim. E mais: o feminismo não exige que eu viva sem desejo, sem ambiguidade, sem erro. Exige, sim, que eu pense criticamente — e é isso que estou fazendo.

Porque no fim das contas, eu sou só o “P” de pecado — e não de puta.

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Nina

A alcoviteira traidora do feminismo

 
 
 

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