Última lágrima
- Veronica Fraga
- 11 de jul.
- 1 min de leitura
No lamaçal da escuridão,
só resta o frio e a solidão.
Eis que aqui sou cabal:
sem luz, sem brilho,
sem espelho.
Onde estou? Como cheguei?
Não sei se sei.
Mas estou no meu lugar —
aquele que me colocaram.
Aquele que, ao passar das luas,
aceitei estar.
Em meio ao frio,
não sinto os hematomas a pulsar.
Na escuridão,
não preciso me preocupar
com a maquiagem a borrar.
Aqui sou o que nasci para ser,
ou o que aceitei ser.
No final do abismo,
não importa meu cabelo esvoaçado,
minha pele preta, parda ou encardida.
Aqui não se tem cor,
nem luz,
nem vida.
Caio a pensar:
por que aceitei?
Só um empurrão,
só um tapa,
só mais uma vez suas mãos
em meu pescoço.
Por que sofro por ser quem sou?
Mas é tarde demais para mudar.
Só me resta pensar,
pela eternidade
que transcende o tempo
e o espaço.

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