top of page

Última lágrima

No lamaçal da escuridão,

só resta o frio e a solidão.

Eis que aqui sou cabal:

sem luz, sem brilho,

sem espelho.


Onde estou? Como cheguei?

Não sei se sei.

Mas estou no meu lugar —

aquele que me colocaram.

Aquele que, ao passar das luas,

aceitei estar.


Em meio ao frio,

não sinto os hematomas a pulsar.

Na escuridão,

não preciso me preocupar

com a maquiagem a borrar.


Aqui sou o que nasci para ser,

ou o que aceitei ser.


No final do abismo,

não importa meu cabelo esvoaçado,

minha pele preta, parda ou encardida.

Aqui não se tem cor,

nem luz,

nem vida.


Caio a pensar:

por que aceitei?

Só um empurrão,

só um tapa,

só mais uma vez suas mãos

em meu pescoço.


Por que sofro por ser quem sou?

Mas é tarde demais para mudar.

Só me resta pensar,

pela eternidade

que transcende o tempo

e o espaço.

ree

 
 
 

Commentaires


Post: Blog2_Post

©2020 por Diário de Alcova. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page