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Outras nomenclaturas e movimentos na machosfera: uma visão ampliada

  • Lud
  • 30 de jun.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 8 de jul.


Se quisermos mapear o universo da machosfera, será preciso muito mais que um post. Esse ecossistema — com suas subculturas, linguagens e ramificações — é vasto, mutante e perigosamente articulado. Vai do amadorismo raivoso ao conservadorismo político-religioso altamente estruturado. Aqui, destaco os principais grupos e termos para quem deseja compreender essa teia de misoginia contemporânea.


Mulheres na linha de frente da reação conservadora

1. Tradwives (Traditional Wives)Defendem o “orgulho” de ser submissa, cuidando do lar, marido e filhos. Com estética retrô (anos 50), promovem receitas, faxinas e "amor cristão", travestindo submissão de escolha empoderada.

2. Féminas Tradicionalistas / CristofeminismoInspiradas em dogmas bíblicos, reforçam a mulher como “ajudadora” e mãe virtuosa. Alegam que a “modernidade” gerou infelicidade ao romper com o papel feminino “natural”.

3. Anti-feministas / Anti-wokeMulheres que se declaram “traídas pelo feminismo”. Ecoam frases como: “O feminismo me deu boletos, não liberdade”. Estão alinhadas à direita global e ao discurso anti-inclusão.

4. Femininity Influencers / Femininity CoachesEnsinam “como ser mulher” para agradar homens. Suas falas misturam machismo e “autocuidado”: “Não é submissão, é inteligência emocional”, “Você é o prêmio, mas precisa se comportar como tal”.

5. TradCaps / Influencers da Alt-RightMulheres ligadas à ultradireita, contra aborto, cotas e igualdade de gênero. Atuam como propagadoras da ideologia tradicionalista e teorias conspiratórias sobre o feminismo.

6. Mães contra a doutrinaçãoMovimento que ataca debates de gênero, sexualidade e racismo nas escolas. Alegam “defender a inocência”, mas promovem censura e moralismo.


Essas mulheres não são apenas reprodutoras do machismo — são agentes ativas de sua manutenção. Operam por dentro, como “quinta coluna” do patriarcado, disfarçando opressão de liberdade. É preciso nomeá-las e enfrentá-las, pois romantizam retrocessos como se fossem escolhas conscientes.

Subculturas e arquétipos masculinos da machosfera:


Black Pill – A vertente mais niilista dos incels: acreditam que homens feios nunca terão chance, pois o mundo é regido pela genética. Flertam com discursos suicidas e violentos.

MRAs (Men’s Rights Activists) – Grupos que, sob a bandeira dos "direitos dos homens", muitas vezes atacam o feminismo usando a retórica da inversão: “Hoje, os oprimidos somos nós”.

NoFap / Sem Pornô – Movimento que prega a abstinência de masturbação e pornô como forma de retomar a “energia masculina”. Às vezes tem cunho espiritual, outras vezes obsessivo.

Coach de masculinidade / Alfa Coach – Vendem cursos para “virar macho alfa” e dominar mulheres. Prometem sucesso sexual com linguagem de autoajuda e dominação emocional. Estão em alta no Brasil.

Arquétipos da “hierarquia” masculina

  • Alpha – Líder, rico, sexualmente ativo. Ideal inalcançável.

  • Beta – Bonzinho rejeitado, que vive na friendzone.

  • Sigma – “Lobo solitário”, inteligente e independente.

  • Omega – Fracassado, instável, invisível.

  • Red Pill – Homem “acordado” que enxerga a "verdade" por trás do feminismo.

  • MGTOW – Homens que “desistem” das mulheres por autopreservação.

  • Blue Pill – Ingênuo que ainda acredita no amor e na igualdade.

  • Chad – Bonito e burro, mas sexualmente bem-sucedido.

  • Cuck – “Corno” usado como xingamento máximo.

  • Simp – Homem que bajula mulheres sem receber em troca.

Termos pejorativos para mulheres

  • Stacy – A jovem bonita e fútil que só quer os “Chads”.

  • Karen – A mulher “mandona” e “reclamona”.

  • Femoid – Termo desumanizador para mulheres (“female + android”).

  • Femcel – Mulher celibatária involuntária, o espelho feminino dos incels.



Diante desse cenário, fica evidente que não estamos lidando apenas com discursos isolados ou opiniões controversas. Estamos diante de um projeto ideológico bem articulado, que vem ocupando espaços simbólicos, midiáticos e institucionais. A machosfera — e suas versões femininas conservadoras — não é apenas um reflexo do passado, mas uma tentativa ativa de moldar o futuro sob lógicas ultrapassadas.

É por isso que compreender essas narrativas é urgente. Não basta combater o machismo escancarado; é preciso também desmascarar suas versões polidas, suas roupagens afetivas, religiosas ou “empoderadas”. É preciso nomear as armadilhas do discurso, reconhecer as novas máscaras da opressão e disputar as subjetividades que estão sendo formadas — sobretudo entre os mais jovens.

Porque no fim, não é só sobre memes, estética retrô ou frases motivacionais. É sobre controle. É sobre dominação. E sobre a disputa real por sentidos, corpos e futuros.


LUD


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